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"Também Fomos Felizes", de Yasujiro Ozu, 1951

hikafigueiredo

Filme do dia (227/2018) - "Também Fomos Felizes", de Yasujiro Ozu, 1951 - Noriko (Setsuko Hara) é a filha mais nova da família Mamiya. Aos 28 anos, Noriko já é considerada uma solteirona e a família começa a buscar um homem que a queira como esposa. No entanto, a jovem mulher resiste a um casamento arranjado.





O diretor Ozu concentrou sua atenção em retratar o cotidiano da sociedade japonesa. Seus filmes, extremamente lentos, conseguem descrever, com exatidão, o fluxo da vida no Japão da sua época, extraindo toda a poesia possível de existências simples e comuns. Esta obra segue perfeitamente essa ideia e discorre sobre uma típica família japonesa do pós-guerra, com suas aspirações e preocupações mais corriqueiras. Temos, aqui, a imagem da nova mulher japonesa que, conquanto não rompa definitivamente com as tradições ancestrais - no caso, o casamento e o papel da esposa na família e na sociedade -, resiste aos pontos que lhe são incômodos: Noriko, que trabalha como secretária, não rejeita o casamento, mas quer decidir por si só quem será seu marido, por quem espera ter sentimentos reais de afeto. Há, ainda, um conflito de gerações, pois os pais e o irmão mais velho de Noriko tentam, de todas as formas, convencê-la a aceitar um homem escolhido por eles para ser seu futuro companheiro. Ozu trabalha, com maestria, as características daquele povo e daquela sociedade - a discrição e o comedimento do povo japonês podem soar estranhos aos ocidentais, muito mais expansivos e imprudentes que os orientais, mas são perfeitamente retratados e compreendidos na obra do diretor. Diria que este é um filme contemplativo, calmo, não há a ansiedade de mostrar o cerne da questão, separar o objeto do todo - não, no filme o todo importa tanto quanto o assunto central e o ritmo da vida não é alterado em função da história. É uma obra doce e sólida, muito muito poética. Ozu trabalha com câmeras fixas, com preferência por planos abertos que peguem todo o corpo dos atores e, não apenas o plano americano, além de acompanhar longos trechos de ação antes de mudar de plano. Quanto às interpretações, temos, aqui, boa parte do elenco que faria, dois anos depois, a obra prima "Era Uma Vez em Tóquio" - além da ótima Setsuko Hara como Noriko, Haruko Sugimura como a Sra. Yabe, Chieko Higashiyama como Sra. Mamiya, Chishu Ryu como Sr. Mamiya. Destaque, ainda, para Chikage Awashima como Aya, melhor amiga de Noriko e, como ela, assumida "solteirona". Linda obra, merece ser vista.

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