Filme do dia (26/2024) – “The Souvenir”, de Joanna Hogg, 2019 – Julie (Honor Swinton Byrne) é uma jovem estudante de cinema que se envolve com Anthony (Tom Burke), um homem mais velho e com particularidades que trarão problemas para o relacionamento do casal.
O filme discorre sobre o conturbado relacionamento de Julie e Anthony, que inicia como um sonho e, paulatinamente, transforma-se em um pesadelo. Julie é uma estudante de cinema que planeja rodar um filme, mas seus planos passam para segundo plano quando a moça se envolve com Anthony, um homem que exala segurança e sofisticação. Enquanto frequenta lugares caros e requintados com Anthony, Julie não percebe algumas incoerências do namorado, mergulhando de cabeça nessa relação. Uma revelação (sem spoilers), faz com que Julie acorde, mas será tarde e se desvencilhar de Anthony torna-se praticamente impossível. Assim, o cerne da história é o relacionamento problemático e abusivo dos personagens. Eu achei interessante o enfoque dado a esse viés “abusivo” da relação – com frequência, os homens abusivos no cinema são violentos ou têm a tônica de controlar e destruir a autoestima de suas mulheres – vide “Dormindo com o Inimigo” (1991), “Custódia” (2017) ou “Querida Alice” (2022). Não é o caso de Anthony, o personagem ocupa outro nicho dos relacionamentos abusivos – aquele que desvia a companheira de seu caminho e se torna um problema na vida do outro. Até entendo que Anthony tem problemas que refletem na sua própria existência, mas é impossível não perceber a toxidade de sua relação com Julie. Tem uma cena, em particular, que me deixou enfurecida, pois, após ter um comportamento inadequado e imperdoável, Anthony consegue convencer Julie de que a responsabilidade pela indignação da namorada era dela própria (!!!!), a ponto de ela pedir desculpas para ele (!!!!!!!!!!). A narrativa é linear, em ritmo moderado e bem construída justamente por não ser exagerada demais – os abusos são sutis, espaçados e revestidos de vitimização. A atmosfera é mais incômoda do que exatamente pesada. O que eu não consegui entender na narrativa foi o apelo que Anthony tinha sobre Julie: o personagem sempre foi arrogante, empavonado e sem sal, e sequer bem apessoado ele era - isso me irritou um pouco na história. O elenco conta com Honor Swinton Byrne como Julie e Tom Burke como Anthony – sinceramente, não achei nada de especial no trabalho deles, ainda que não possa dizer que tenha sido ruim – no fundo acho que peguei um ranço dos personagens e acabei transferindo isso para os intérpretes. No elenco, ainda, Tilda Swinton como Rosalind, mãe de Julie, levando para as telas a realidade (Tilda é mãe de Honor). Ah, o filme tem virtudes pelas sutilezas, mas eu esperava mais. Sei lá, não me animo a recomendar.
Comments