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  • hikafigueiredo

“Titane”, de Julia Ducournau, 2021

Filme do dia (109/2023) – “Titane”, de Julia Ducournau, 2021 – Depois de sofrer um acidente de carro, a pequena Alexia tem uma placa de titânio implantada em seu crânio. Já adulta, Alexia (Agathe Rousselle) torna-se uma psicopata assassina que tem fetiche por carros. Quando passa a ser perseguida pelos assassinatos que cometeu, Alexia oculta sua identidade passando-se pelo filho desaparecido do bombeiro Vincent (Vincent Lindon), sabendo que esse disfarce está prestes a ser revelado.





Confesso que este é um daqueles filmes complexos para traçar diálogos acerca deles. Começa que é uma obra encravada no body horror, aquele subgênero do terror que se apoia em imagens perturbadoras relacionadas aos corpos humanos, seja por mutações ou por sérias violências gráficas à sua estrutura ou funcionamento naturais, como mutilações ou doenças que levam à degradação física dos corpos. Além disso, a obra habita um universo próprio, com acontecimentos absurdos ou surreais, os quais o espectador precisa, de alguma forma, “naturalizar”. A história discorre sobre Alexia, uma jovem com fetiche por carros a ponto de se relacionar sexualmente com eles. A protagonista mostra-se uma psicopata com sexualidade exacerbada e nenhuma empatia pelo outro, matando friamente e experimentando um prazer carnal nessa ação. Ocorre que ela começa a ser procurada pela polícia e acaba encontrando em um sofrido bombeiro cujo filho desaparecera na infância o esconderijo perfeito. No fundo, Vincent, o bombeiro, sabe que aquela pessoa não é seu filho, mas ele PRECISA preencher aquela lacuna e dar vazão à sua dor e seu afeto reprimidos. Não posso ir além porque cairia em spoilers grosseiros, mas já dá para ter uma ideia da conjuntura da obra. Eu vejo, no filme, dois momentos, separados pela chegada de Alexia na vida de Vincent e digo que me senti um pouco incomodada por mudanças psicológicas e comportamentais da protagonista na segunda parte – para mim, há uma modificação drástica em Alexia que não se explica por nada. De qualquer forma, o que temos em cena é um desfile de condutas violentas e aberrantes representadas por muita violência gráfica, além transformações corporais que podem perturbar as almas mais delicadas (errr... que não é bem o meu caso). Não posso negar que o filme traz alguma crítica, concentrada especialmente na objetificação feminina que, em certo momento, ganha cores extremas. Impossível não traçar um paralelo deste filme com as obras de David Cronenberg (principalmente, mas não só, com “Crash – Estranhos Prazeres”, 1996) e com a filmografia de David Lynch, por conta da estranheza que desperta. A narrativa é linear, em ritmo intenso. A atmosfera é tensa, incômoda e cada vez mais perturbadora. Destaque para os bons efeitos especiais e maquiagem que chegam a gerar aflição em algumas cenas. Destaque também para a fotografia colorida muito contrastada. Grande parte do filme está ancorada nas interpretações magistrais de Vincent Lindon e Agathe Rousselle – a última, uma atriz impressionante, com um olhar penetrante e uma energia selvagem, perfeita para o papel. A obra, esquisitíssima, é bem da verdade, foi a vencedora da Palma de Ouro em Cannes (2021), prêmio um pouco incompreensível para mim. O filme prendeu minha atenção, muito pela curiosidade de até onde ele iria chegar. Não o achei um filme ruim, mas, talvez, um pouco distante do que eu esperava. Recomendo com alguma restrição.

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