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"Todos Porcos", de Shohei Imamura, 1961

hikafigueiredo

Filme do dia (286/2020) - "Todos Porcos", de Shohei Imamura, 1961 - Kinta (Hiroyuki Nagato) quer entrar para o crime organizado e, para tanto, trabalha em uma criação de porcos de membros da Yakuza. Sua namorada Haruko (Jitsuko Yoshimura) resiste a se transformar em uma prostituta para atender marinheiros norte-americanos. Haruko tenta tirar de Kinta a ideia de se transformar em um gângster, mas o rapaz tem sonhos elevados.





O filme trata da relação de exploração simbiótica entre a marinha norte-americana e a população humilde de Yokosuka, um porto japonês. O Japão, anos após perder a guerra para os EUA, encontra-se em crise e o contingente norte-americano que chega ao porto é fonte certa de divisas para os habitantes locais. Assim, enquanto as mulheres se prostituem para os marujos americanos - e assim arrancam deles todos os dólares possíveis -, os homens envolvem-se em negociatas diversas, de olho em possíveis retornos financeiros advindos dos mesmos militares. Todos - homens e mulheres - tentando passar a perna nos estrangeiros que os humilham. Tendo essa situação como pano de fundo, a obra foca no casal Kinta e Haruko. O primeiro, com sonhos de grandeza adolescentes, é cooptado pela vida bandida, muito embora seja um rapaz de boa índole e incapaz de fazer mal a alguém. Já Haruko, toda correta e resistente a entrar para qualquer forma de contravenção, aceita uma existência mais humilde e pé no chão e tenta, sem grande sucesso, trazer Kinta para a realidade. A narrativa é linear, bastante convencional e tem um ritmo mais ágil que o comum em filmes orientais. A atmosfera superficial é alegre, mas, se o espectador se atentar um pouco, percebe a melancolia e a angústia que marcam a situação de quase desespero daquela população. Adorei como os marinheiros e oficiais norte-americanos são retratados - como um bando de trogloditas babacas, nada confiáveis, arrogantes e dado a trambiques tanto quanto a população pobre local. O casal central desperta simpatia, mesmo Kinta, que tenta se fazer de durão mas é inofensivo. A fotografia é P&B, suave, pouco contrastada e a direção de arte capricha na ambientação dos locais paupérrimos, com seus casebres e corredores escuros e sujos. Gostei bastante da interpretação de Hiroyuki Nagato e Jitsuko Yoshimura como Kinta e Haruko, ambos trazem muita humanidade aos personagens. Por outro lado, achei o final extremamente anticlímatico - a impressão que eu tive é que o diretor não soube bem o que fazer após a cena de clímax e deixou um "rabicho" meio esquisito ao final. Mas, no geral, o filme é bem bacana e eu gostei, tive vontade de ver mais obras desse diretor. Podem assistir sem medo.

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