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hikafigueiredo

“Troca Surpresa”, de Kiran Rao, 2024

Filme do dia (50/2024) – “Troca Surpresa”, de Kiran Rao, 2024 – Deepak (Sparsh Shrivastava) e Phool (Nitanshi Goel) acabam de se casar. Na viagem de volta para sua vila natal, no entanto, Deepak acaba se confundindo e sai do trem com Jaya (Pratibha Ranta), que também se encontrava vestida de noiva. Ao chegar à sua vila, Deepak descobre a troca involuntária e se desespera por ter perdido sua amada.




 

Em busca de uma história leve, encontrei essa comédia romântica indiana e resolvi arriscar, muito por não conhecer nada de cinema indiano de qualquer espécie. Foi uma grata surpresa e em mais de um aspecto. Como qualquer comédia romântica, seja de que origem for, o filme é agradável, despreocupado e flui com facilidade. Drama e humor equilibram-se cuidadosamente e a nacionalidade da obra garante certa ingenuidade à história – não temos as comuns cenas “picantes” dos romances hollywoodianos, que, nas mais das vezes, são totalmente dispensáveis. Neste aspecto, o filme é super bonitinho e cumpre com louvor o que se espera de uma comédia romântica. Mas a obra também me agradou muito em outra perspectiva: trata-se de uma história que questiona a condição da mulher na Índia rural e defende, aberta e declaradamente, o empoderamento feminino. Sabe-se que a Índia é um país de hábitos culturais arraigados, onde existe forte ascendência masculina sobre as mulheres e o machismo corre solto, em especial nos vilarejos mais distantes. Os ditames sociais são seguidos à risca e uma mulher casada deve absoluta obediência ao marido. Nesse sentido, a liberdade feminina é fortemente tolhida, inclusive para decidir seu destino. De uma maneira suave, sem confrontar demais os diversos costumes indianos, o filme questiona essa ascendência masculina sobre as mulheres e a falta de liberdade delas para escolher os próprios caminhos – como estudar, trabalhar ou casar -, abrindo espaço para decisões e sonhos femininos. Ao longo da narrativa, diferentes mulheres se rebelarão contra os costumes machistas arraigados e tomarão a frente de suas vidas, tornando-se protagonistas de suas histórias – e isso é lindo, seja na Índia, no Brasil ou em Júpiter! Também fiquei muito satisfeita pelo fato de a maior parte do elenco ser de mulheres, fortalecendo, assim, a representatividade feminina no cinema. Aliás, o filme é dirigido por uma diretora, o que garante o lugar de fala e um olhar muito mais consciente e verdadeiro sobre os temas abordados. A narrativa é linear, em um ritmo predominantemente marcado. A atmosfera transita entre uma leve tensão e o humor. Formalmente é um filme que não deixa nada a dever a um filme estadunidense padrão – a linguagem utilizada é bem convencional, mas com um forte tempero indiano. Até por ser fascinada pelo país, eu amei todo o desenho de produção que reforça as origens da obra – os costumes, as roupas, os ambientes, tudo exala Índia. Achei curioso o fato de o filme ter algumas cenas “de respiro”, onde não acontece nada de especial, mas os personagens aparecem em cena enquanto uma música cantada menciona questões da história. Destaque para a fotografia colorida bem saturada, tornando ainda mais coloridas as cenas já cheias de cor das roupas das personagens. O elenco principal conta com as atrizes Pratihba Ranta como a rebelde Jaya e Nitanshi Goel como a delicada Phool – gostei bastante da interpretação das duas, ambas conseguiram dar muita vida e espessura às suas personagens; como o marido Deepak, Sparsh Shrivastava – ele traz muita simpatia ao seu personagem, mas achei seu trabalho um pouco inferior às das atrizes. Ravi Kishan interpreta o delegado Shyam Manohar, um personagem curioso e surpreendente. Também achei sensacional a personagem Manju Maai, interpretada pela atriz Chhaya Kadam, levando aos extremos o empoderamento feminino. Gente... o filme é uma graça e traz uma mensagem muito importante de resiliência e luta. Gostei muito e está fácil na Netflix.

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