Filme do dia (98/2021) - "True Lies", de James Cameron, 1994 - Helen Tasker (Jamie Lee Curtis) é a entediada esposa de Harry Tasker (Arnold Schwarzenegger), um pacato vendedor de equipamentos de informática. O que ela não imagina é que seu marido é, na realidade, um espião que vive perigosamente e de quem ela só conhece o disfarce.
Neste divertido filme de James Cameron temos uma curiosa fusão entre os gêneros ação e comédia romântica. Como muitas obras que arriscam misturar gêneros muito diferentes, a fórmula tinha tudo para dar errado - mas não deu: o filme é entretenimento de primeira e consegue a proeza de ser tenso, engraçado e romântico, tudo "ao mesmo tempo agora". Evidente que, como bom filme de ação, temos situações completamente inverossímeis - fugas mirabolantes, salvamentos impossíveis e trocas de tiros que fogem à lógica -, mas quem quer alguma plausibilidade neste tipo de história? Quanto mais fantasiosa a ação, mais feliz o espectador fica - e é nessa toada que a narrativa corre. Acredito que dois fatores garantiram a boa conceituação do filme: de um lado, efeitos visuais de alta qualidade, que levaram a produção a concorrer ao Oscar desta categoria; de outro, a ótima escolha de elenco - se Schwarzenegger assegura o lado "ação" do filme, Jamie Lee Curtis, uma atriz com incrível timing cômico, incumbe-se do viés "comédia romântica" com extrema competência, tanto que foi agraciada com o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Comédia, bastante merecidamente. Junte a isso um ritmo alucinante e chegamos ao sucesso da obra. Detalhe: em 1994, com a queda do Muro de Berlim em 1989 e a dissolução da antiga União Soviética em 1991, o cinema norte-americano ficou órfão de seus vilões prediletos, os agentes soviéticos (ou russos, ou da KGB, ou como quer que se apresentassem no período da Guerra Fria). Assim, algum novo agente precisava ser alçado ao vilão-mor de Hollywood - e é aí que entram em cena os "terroristas árabes" (ou muçulmanos, ou islâmicos, ou com alguma outra denominação do gênero), que se estendem até o presente. Curioso é que existe uma cena em que o diretor dá uma "cutucada" na ferida que começava a ser aberta: o vilão do filme faz uma gravação de televisão em que diz "vocês assassinam nossas mulheres e crianças e nós somos chamados de terroristas?" - quem diria que, em meio a um filme de ação hollywoodiano teríamos embutida uma crítica tão contundente e cirúrgica às ações dos EUA no Oriente Médio, né? Claro que, apesar da crítica, o vilão mostra-se cruel, sanguinário e malvadão e, lógico, torcemos contra ele, afinal, "the show must go on". Destaque para a cena da dança sensual de Jamie Lee Curtis, que consegue ser, simultaneamente, sexy e engraçada. O filme é beeeeem divertido e acho que vai agradar à maior parte do público. Podem ir na fé.
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