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  • hikafigueiredo

“Tucker – Um Homem e Seu Sonho”, de Francis Ford Coppola, 1988

Filme do dia (31/2024) – “Tucker – Um Homem e Seu Sonho”, de Francis Ford Coppola, 1988 – EUA, meados da década de 40. Preston Tucker (Jeff Bridges), um admirador de carros, tem o sonho de projetar e produzir um veículo inovador, com design arrojado e funcionalidades diferenciais. Ele busca investidores para seu projeto, mas se depara com o monopólio das grandes indústrias automobilísticas. Tucker, no entanto, não desistirá de seu sonho.




 

Nesta cinebiografia temos a história verdadeira de um homem tão visionário, quanto ingênuo, em busca de um sonho. Desde criança, o protagonista Preston Tucker teve fascínio por automóveis e direcionou sua vida para se tornar um projetista do ramo. Durante a Segunda Guerra, Tucker projetou veículos bélicos e, com o fim do conflito, levou a sério a projeção de que a população estadunidense direcionaria sua atenção e seu poder financeiro para a aquisição de novos automóveis. Com isso em vista, Tucker projetou um carro inovador, diferente de tudo que já havia sido feito. Sua busca por investidores, entretanto, colidiu contra o interesse das grandes empresas do ramo automobilístico e, na defesa de seu monopólio, tais indústrias passaram a boicotar o projeto de Tucker, usando, para isso, todas as suas armas, que iam de espionagem industrial a ameaças veladas – ou não. A obra é ótima em retratar um pouco do sórdido submundo do capitalismo, aquela zona cinzenta onde acordos e alianças se estabelecem e onde quem não se alia torna-se, necessariamente, o inimigo a ser combatido. O filme também é hábil em mostrar como o poder econômico e político estão atrelados e o quanto a informação – entenda-se aqui, a mídia preponderante – é usada para manipular a opinião pública e criar “verdades”. Por fim, a obra escancara a dificuldade em combater a hegemonia dos grandes grupos empresariais, independente do setor que atuem. A narrativa é linear, em ritmo bem marcado e crescente. A atmosfera, no início, é muito influenciada pelo entusiasmo do protagonista e de sua família e aliados, mas, ao longo da narrativa, senti o amargor de vivermos numa realidade de cartas marcadas, onde sonhos e boas ideias não conseguem prosperar. A linguagem utilizada é ágil e temos várias situações em que uma cena desemboca em outra completamente diferente usando os mesmos espaços e/ou elementos de cena – curti essa dinâmica, trouxe energia para a narrativa. A fotografia  e a edição também se mostraram dinâmicas, com muitos movimentos de câmera e cortes rápidos. O desenho de produção de época mostrou-se irretocável, em especial nas cenas em que os carros de Tucker aparecem. No elenco, Jeff Bridges dá vida ao protagonista Preston Tucker – o personagem mostra-se, o tempo inteiro, um idealista, mas também um crédulo, ao acreditar na falácia do self made man capitalista, mesmo que a realidade aponte para algo totalmente diverso; Joan Allen interpreta a esposa e incentivadora de Tucker, Vera, mostrando ser personalidade na personagem; Christian Slater, bem novinho, interpreta o filho mais velho do casal, Junior; Dean Stockwell faz uma ponta como Howard Hughes; mas é Martin Landau quem se sobressai, no papel do braço comercial de Tucker, o personagem Abe – ele está ótimo, pois Abe é o personagem mais complexo da trama: por vezes cínico, outras vezes extremamente sentimental, Abe traz uma humanidade tocante. Por seu trabalho, Martin Landau foi agraciado com o Globo de Ouro (1989) de Melhor Ator Coadjuvante. Ainda que não veja o filme como um dos grandes do diretor, eu curti a obra, principalmente por mostrar quão pouco justo e honesto é o sistema capitalista, mesmo para quem põe fé nele e joga sob suas regras. Eu recomendo e é bem interessante para ser usado em sala de aula.

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