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“Um Completo Desconhecido”, de James Mangold, 2024

hikafigueiredo

Filme do dia (08/2025) – “Um Completo Desconhecido”, de James Mangold, 2024 – Nova York, 1961. O jovem aspirante a músico Bobby Dylan (Timothée Chalamet) chega à cidade com seu violão, disposto a conhecer seu ídolo Woody Guthrie (Scoot McNairy), um célebre cantor de música folk, o qual se encontra hospitalizado. No local, ele conhece Pete Seeger (Edward Norton), outro notório músico folk, que, admirado do talento do jovem, o acolhe em sua casa e passa a lhe abrir portas dentre os músicos e produtores musicais do movimento.




 

Essa ótima cinebiografia de Bobby Dylan, assinada por James Mangold, tem o mérito de, a um só tempo, reverenciar o talento do músico e não se deixar levar pela tendência de ser “chapa branca”, ou seja, fazer do biografado um personagem perfeito e sem qualquer defeito. Ao contrário: sem, em momento algum, diminuir a genialidade musical de Dylan, a obra consegue retratá-lo como uma pessoa, no mínimo, controversa. Confesso que saí do cinema com o sentimento de que Bob Dylan, a despeito de seu talento, era uma pessoa que também podia ser egoísta, narcisista, arrogante e ingrata. Não dá para negar que o filme retrata Dylan como uma pessoa bastante complexa de se lidar e que não sabia muito bem tratar o próximo. Entendo que, em sua genialidade, Dylan não aceitava amarras nem ditames autoritários que freassem sua criatividade, autonomia e talento – ele, simplesmente, não acatou ordens que limitavam sua obra, engessando-a dentro do estilo folk. Dylan traçou diálogo entre a música folk e o blues, o rock e o pop, criando um estilo próprio que não se enquadrava dentro de qualquer “caixinha”, colhendo inimizades e detratores dentre produtores musicais, músicos e até mesmo seu próprio público. Dylan se negava a trair aquilo que acreditava, vivendo para a música e para onde seu talento o conduzisse. Isso é louvável, eu sei. Maaaaaaaas, o lado “B” é que traiu amigos, magoou pessoas que o tinham em alta conta e foi incapaz de ser leal com os seres humanos como era leal à sua música. No frigir dos ovos, saí do filme com sentimentos bem contraditórios em relação ao artista – admirada por sua qualidade como músico e letrista e decepcionada com o ser humano. Com uma narrativa absolutamente linear, em ritmo marcado, o filme me trouxe certo amargor quanto ao biografado – mas não achei ruim isso não, pois, de certa forma, humanizou uma personalidade que temos a tendência de endeusar, glorificar e “passar pano” quando age de forma imperfeita. Tecnicamente, temos um filme impecável, com destaque para o desenho de produção de época, edição de som e, lógico, trilha sonora de milhões. Quanto às interpretações - Jesus, Maria e José!!!! - o que foi o trabalho de Timothée Chalamet como Bob Dylan???? Ele reproduz com perfeição não apenas o ar blasé do artista, mas também aquela voz anasalada tão particular do músico. Ele está fantástico, não tem como negar. Outro que está muito bem é Edward Norton (ah, jura?) como Pete Seeger, o “descobridor” de Dylan e quem lhe abriu as portas da indústria musical. No elenco, ainda, Elle Fanning como Sylvie Russo, a primeira namorada do artista (nome fictício, pois Dylan exigiu que o nome real da moça fosse preservado) – aliás, vale destacar que Bob Dylan é retratado como um parceiro amoroso tóxico, infiel e narcisista, incapaz de retribuir minimamente o afeto que lhe era dispensado e colocando-se, sempre, antes de qualquer outra pessoa. Mônica Barbaro interpreta Joan Baez – outra mulher que teve uma relação tóxica e conturbada com o artista - e Boyd Holbrook interpreta Johnny Cash. A obra foi indicada em diversas categorias nas principais competições e festivais – Globo de Ouro (2025), BAFTA (2025), Critics’ Choice Awards (2025) e, claro, Oscar (2025), dentre os quais, Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante (Edward Norton), Melhor Atriz Coadjuvante (Monica Barbaro), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Figurino e Melhor Som, mas, até agora, foi agraciado com poucos prêmios (o principal foi o prêmio de Melhor Ator do Sindicato de Atores para Timothée Chalamet). Aguardemos o Oscar hoje à noite. Eu gostei demais do filme, o qual me prendeu do começo ao fim. Atualmente nos cinemas. Recomendo muito.

 
 
 

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