Filme do dia (317/2020) - "Um Gosto de Mel", de Tony Richardson, 1961 - Jo (Rita Tushingham) é uma adolescente rejeitada pela mãe Helen (Dora Bryan) que se envolve com um marinheiro. Quando ele parte com seu navio, Jo descobre-se grávida, tendo, como único apoio, seu amigo gay Geoffrey (Murray Melvin).
Baseado na peça teatral homônima de Shelagh Delaney, o filme tem um tom realista e discorre sobre a vida das pessoas excluídas e pouco afortunadas e sobre os dramas juvenis. Sofrendo com a ausência da mãe, Jo não tem a mínima rede de suporte, mas encontra em Geoffrey, um jovem rejeitado pela sociedade por ser gay, um esteio para a sua vida. Geoffrey, por sua vez, vê em Jo sua redenção e torna-se um companheiro devotado e presente. O filme, ainda, joga um olhar sobre os relacionamentos abusivos, na medida em que Jo está tão enredada na relação com sua mãe egoísta e ausente que é incapaz de acolher emocionalmente Geoffrey, reconhecer sua devoção e aceitar plenamente seu apoio. A narrativa é linear e fluída, bastante amarrada, ainda que seu desfecho seja um tanto quanto abrupto - admito que o desfecho me deixou "emputecida", queria entrar no filme e dar na cara de uma certa pessoa (sem spoilers). A atmosfera vai do melancólico ao desesperançoso, mas nada que lembre as nossa emoções latinas, tudo é bastante contido. A narrativa é ambientada em bairros pobres, quase miseráveis e a fotografia P&B deixa ainda mais pesada essa ambientação. O ponto alto do filme é a interpretação da dupla de protagonistas. Rita Tunshingham interpreta uma Jo que transita entre a fragilidade emocional e a ilusão de independência, pois, ainda que demonstre orgulho e certa rispidez no trato, Jo é uma jovem carente e frágil. Já Murray Melvin interpreta um Geoffrey resiliente e com profunda força interior, suficiente para acolher Jo em todas as situações. O trabalho dos dois intérpretes é incrível - enquanto Rita Tunshingham é um pouco mais emocional e tem uma interpretação mais "visceral", Murray Melvin tem a força de sua interpretação nos detalhes, nos olhares e nas discretas expressões faciais e corporais. Ambos foram agraciados com os prêmios de Melhor Atriz e Ator em Cannes, em 1962. Dora Bryan, a atriz que interpretou a mãe de Jo, também fez um trabalho excelente, recebendo o prêmio BAFTA de Melhor Atriz naquele ano. Eu digo que me apaixonei pelo personagem Geoffrey e que quero ele para mim... O filme é ótimo, mas repito que detestei o desfecho e a cena final partiu meu coração peludo. Ainda assim, recomendo.
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