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hikafigueiredo

“Um Homem Diferente”, de Aaron Schimberg, 2024

Filme do dia (148/2024) – “Um Homem Diferente”, de Aaron Schimberg, 2024 – Edward (Sebastian Stan) é um aspirante a ator com múltiplas deformidades faciais que se submete a um tratamento experimental que modifica completamente seu rosto. Sem as deformidades, Edward é rejeitado para encenar um personagem que fora escrito para ele próprio, o que o leva a tomar medidas drásticas.




 

Então... escrevi a sinopse seguindo, mais ou menos, as diretrizes das sinopses que o filme ganhou por aí, mas... eu nem sei se essa sinopse seria a mais fiel e indicada para ele!!!!!! A obra é um exemplo, por excelência, de filme “mindfuck”, daqueles que a gente sai igual ao meme da Nazaré. A narrativa discorre sobre um homem com graves deformidades faciais – Edward - que faz um tratamento para perder tais deformações e ganhar uma aparência “normal”. Ocorre que esta decisão faz com que ele perca o papel de protagonista em uma peça que seria perfeito para sua aparência anterior, o qual é entregue para Oswald, outro homem com múltiplas deformidades. Nosso personagem, então, entra em uma crise de identidade e num profundo processo de negação que envolve sua relação com a autora da peça e Oswald. Edward, que agora possui uma aparência dentro dos padrões sociais, inclusive muito bonito segundo eles, passa a invejar Oswald, um homem que, a despeito de sua aparência física, tem sede de viver e muita personalidade, sendo querido e admirado por todos. Bem... essa é a camada mais superficial da narrativa, mas que não contempla várias pistas que indicam que existe algo além – são inúmeros os pontos que “não fecham” e que não são meros erros de roteiro, são claramente propositais (o homem com o cachorro, o furo no teto, o assédio na rua, a máquina de escrever). Enfim... quem exatamente é Edward, qual é a sua história e o que acontece com ele é um trabalho para muita interpretação, talvez necessitando, inclusive, de mais revisitas à obra para ver se dentro da sua teoria tais pontos “fecham”. De qualquer forma, o que temos é uma história sobre expectativas, frustrações e insatisfações, sobre um personagem que tanto sonhou em alcançar algo que, quando alcançou, descobriu que não era a ausência daquilo que tornava sua vida cinzenta e sem brilho. A aparência física era o menor dos problemas de Edward, alguém que simplesmente não tinha um “it”, não era uma pessoa interessante ou envolvente qualquer que fosse sua forma e um contraponto a Oswald, um homem empoderado e confiante – para Edward, irritantemente confiante. Existe um claro “espelho” entre os dois personagens – inclusive a semelhança dos nomes (Edward e Oswald) não me parece ser mera coincidência; Oswald é tudo aquilo que Edward poderia ter sido e não foi e ele não se conforma com isso. Ainda que todos estejam considerando o filme uma comédia dramática de humor ácido, eu não com segui ver toda essa comicidade propalada – para mim, a obra é um drama sobre certo vazio existencial do personagem, que ele não consegue preencher com sua modificação na aparência e sente-se imensamente frustrado e insatisfeito, e toda essa carga de dor psicológica de Edward não tem qualquer graça. O filme tem, ainda, um pezinho no “body horror”, por conta da cena de transformação de Edward. Eu senti o filme todo uma atmosfera de estranhamento, até mesmo um clima um pouco onírico em tudo o que acontecia. Bom... filme para divagar a respeito... No elenco, Sebastian Stan como Edward, num trabalho bem razoável, em especial na segunda parte da história, depois da transformação; Renate Reinsve interpreta Ingrid, a autora da peça e interesse amoroso de Edward; e Adam Pearson como Oswald – detalhe: o ator possui realmente tais deformidades, sendo vítima de uma doença rara que causa múltiplos tumores benignos na face. A obra dialoga com outras, como “O Homem Elefante” (1980), “Marcas do Destino” (1985) e, mais recentemente, “A Substância” (2024). Confesso que fiquei entusiasmada pelo filme e com gostinho de “quero rever” (eu adoro filmes mindfuck). Assistido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

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