Filme do dia (27/2020) - "Uma Mulher Alta", de Kantemir Balagov, 2019. Leningrado, 1945. Após o fim da Segunda Guerra, os habitantes da cidade precisam reaprender a viver em um ambiente de paz. Em meio à devastação física e psicológica, duas mulheres - Iya (Viktoria Miroshnichenko) e Masha (Vasilisa Perelygina) - buscam motivos para reencontrar a esperança e a vontade de viver.
A obra, muito densa e severa, trata do esfacelamento e tentativa de reconstrução psicológica das personagens. Tanto Iya - que sofre de uma trágica paralisia pós-traumática que se manifesta aleatoriamente -, quanto Masha - que não dá conta de lidar com seus próprios sentimentos de dor e frustração, tornando-se cruel e destrutiva com quem a rodeia e consigo própria - encontram-se esvaziadas de sentimentos e esperanças e vivenciam a vida praticamente por inércia. É um filme doloroso, porque a destruição psicológica das personagens é palpável, inunda a tela em cada cena, mesmo quando Masha tenta sorrir ou se divertir, tudo parece auto-obrigado, auto-forçado, é bem doloroso. Da mesma forma, a quase apatia de Iya, seu semblante sempre fechado, sua aparência fantasmagórica, são um retrato de seu esvaziamento interior. Não achei um filme fácil de ver - talvez por ter acabado de sair de outra sessão de cinema ou pela temática pesada, certo é que tive dificuldade em "receber" a obra, percebi certa resistência interior em me deixar levar, tanto que assisti ao filme sem "entrar" nele, bem como espectadora e não como "participante", como normalmente gosto de me sentir. Imageticamente, o filme acompanha o tema denso - a fotografia é escura, sóbria, e mesmo quando são utilizados tons coloridos, como o vestido verde das cenas finais de Masha, parece que a cor está embotada e cheia de dor. Merece muito destaque as interpretações dos atores, não se limitando às protagonistas. Alguns olhares de Viktoria Miroshnichenko como Iya falam mais que qualquer discurso, são de uma profundidade, dor e indignação que atingem profundamente o espectador. Vasilisa Perelygina não fica atrás com a falsa alegria de Masha, sua risadas quase forçadas e extremamente doentias, sua obsessão em ter um filho que lhe permite passar por cima de qualquer sentimento alheio. Destaque ainda para Igor Shirokov como Sasha e Kseniya Kutepova como mãe de Sasha. O filme é daqueles que só russos conseguem fazer de tãããão doloroso (sem ser manipulador). Recomendo.
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