Filme do dia (340/2021) - "Uma Mulher Casada", de Jean-Luc Godard, 1964 - Charlotte (Macha Méril) é uma mulher dividida entre o marido Pierre (Philippe Leroy) e o amante Robert (Bernard Noël). Ao descobrir-se grávida, é incapaz de afirmar quem é o pai.
Então... desde os tempos da faculdade que eu tinha, para mim, que não gostava de Nouvelle Vague. Recentemente, percebendo que sabia pouco do movimento, me propus a aprofundar meus conhecimentos no assunto. E veio um festival de grandes obras: "O Ano Passado em Marienbad" (1961), "Jules et Jim" (1962), "Cleo das 5 às 7", "A Baía dos Anjos" (1963),"Bando à Parte" (1964), dentre outros. Então eu concluí: "Mentira! Eu adoro Nouvelle Vague!". Daí veio este filme de Godard... só para me convencer que tem obras do movimento que, para mim, são absolutamente insuportáveis!!!! O filme em questão é, antes de tudo, pretensioso como poucos que vi na vida. Ele arrota arrogância. Mas tem outros filmes prepotentes que eu gosto, isso em si não seria problema. A grande questão é que ele é chato. Chatésimo, eu diria. A narrativa é toda fragmentada, como também são os corpos dos personagens - são sequências e mais sequências de pernas, olhos, mãos, troncos, fragmentados e objetificados, sempre acompanhados de frases soltas, murmuradas, a maioria sem muito sentido, numa eterna masturbação filosófica que não chega a lugar algum, entremeadas de fade in e fade out insistentes. Em outros momentos temos planos próximos dos personagens, numa câmera fixa, em monólogos intermináveis, na mesma filosofia rasa e pretensiosa. Entretanto, de tudo, para mim, o pior foi a personagem feminina vista pelo olhar do diretor. Veja bem, existem diretores do gênero masculino que tem uma sensibilidade mais aguçada para as questões femininas e conseguem "conversar" com esse público... Um exemplo é Cristian Mungiu, diretor do maravilhoso "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias" (2007), que conseguiu captar com profundidade e delicadeza problemas especificamente femininos. Desculpem-me os fãs do diretor, mas Godard não é o caso. A personagem Charlotte não soa como uma mulher, ela é a visão masculina de uma mulher. E, como já percebi em outros filmes do diretor, sempre há violência contra as mulheres em suas obras, o que me incomoda demais. Aqui o marido fala que vai estuprar Charlotte com a mesma naturalidade de quem diz que vai comprar pão. Ou que vai agredi-la. Sinto muito, mas não consigo naturalizar, nem mesmo contextualizando, algo desse tipo. Como sou teimosa, ainda tem muitos filmes de Godard para ver para tecer uma conclusão mais efetiva sobre o diretor e sua obra, mas, até aqui, o saldo não tem sido muito positivo por este ângulo que eu mencionei. A cena do disco com gargalhadas quase me fez desligar o filme de tão irritante. Outra cena que me bateu no fígado foi a conversa entre as duas desconhecidas acerca da primeira experiência sexual de uma delas, uma sequência de machismo que me deu nos nervos. Se o conteúdo me desagradou profundamente, admito que existem algumas cenas visualmente bonitas, como os tais corpos fragmentados, onde ficou evidente a preocupação na estética da coisa através de uma fotografia P&B muito limpa e suave, sem uma sombra sequer, privilegiando os muitos tons de cinza. A edição de som alterna silêncios incômodos com música suave e agradável aos ouvidos (aos meus, ao menos). O elenco é, basicamente, composto pelo trio que forma o triângulo amoroso e, se ninguém teve uma interpretação extraordinária - até mesmo porque os personagens não ajudam -, tampouco fizeram feio. Eu não vou nem tentar suavizar, porque nem conseguiria - eu detestei a obra do começo ao fim. Com força.
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