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  • hikafigueiredo

"Uma Mulher Diferente", de Robert Altman, 1969

Filme do dia (283/2021) - "Uma Mulher Diferente", de Robert Altman, 1969 - Frances (Sandy Dennis) é uma jovem mulher que vive solitária na casa que herdou de seus pais. Frequente em rodas sociais sofisticadas, certo dia ela acolhe um jovem que estava na rua, em meio a uma tempestade, levando-o para a casa dela. Surge, daí, uma relação delicada e complexa.





Baseado no romance "That Cold Day in The Park" (título original da obra), de Peter Miles, o filme é um thriller que discorre sobre a solidão e o impacto dela sobre o frágil psicológico da protagonista Frances. A obra inicia-se como um drama, revelando o cotidiano vazio, solitário e maçante da jovem mulher. Envolta por pessoas idosas e fúteis, a protagonista mostra-se reprimida e obriga-se a cumprir as formalidades sociais dela esperadas, como almoços e jogos de bocha com antigos conhecidos da família. É evidente, desde a primeira cena, que a vida fora deste círculo social a atrai, o que fica claro pelo olhar de Frances para o exterior da casa e para o rapaz que se encontra sob a chuva. A oportunidade de fugir minimamente de sua realidade aparece quando Frances resolve acolher o tal moço e o leva para casa. Pouco a pouco, o thriller começa a se formar, mas ele só estará plenamente solidificado na última meia hora de filme. A figura da protagonista é profundamente trágica - seu vazio existencial e sua solidão são palpáveis e tornam-se tocantes a certa altura, quando Frances menciona sua relação com sua falecida mãe. É decorrente desta solitude e do sentimento de aprisionamento que Frances irá desenvolver uma relação neurótica com o rapaz - que sequer nome merece - e que se torna, a cada instante, mais obsessiva e assustadora. A narrativa é linear, em um ritmo vagaroso, mas crescente, dando um verdadeiro "sprint" nos últimos vinte minutos. A atmosfera é de desalento, inadequação, confusão e, claro, de uma tristeza infinita, porém contida e disfarçada. Sem entrar em spoilers, eu vi um diálogo entre a obra e o maravilhoso "Repulsa ao Sexo" (1965). Não sei se pelo seu ritmo muito lento, mas senti certo estranhamento no início do filme, que foi dando lugar a uma curiosidade insistente aonde a narrativa ia dar. Formalmente é um filme sem grandes inovações, seu forte está mais no conteúdo do que na forma em si. Gostei demais do trabalho de Sandy Dennis como Frances - diria que não é uma personagem fácil, justamente por ser muito contida, todas suas emoções têm de ser transmitidas com muita sutileza e delicadeza. No papel do rapaz, Michael Burns - gostei da interpretação do ator, mas acho o personagem bem mais simples de fazer, se comparado à protagonista. No elenco, ainda, Susanne Benton, David Garfield e Luana Anders. Comparado a outros filmes do diretor, este é bem mais convencional - o que não quer dizer que eu não tenha gostado demais da obra. Eu curti bastante, achei a história instigante e recomendo.

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