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hikafigueiredo

"Uma Vida em Segredo", de Suzana Amaral, 2001

Filme do dia (376/2020) - "Uma Vida em Segredo", de Suzana Amaral, 2001 - Biela (Sabrina Greve) é uma moça simples e introspectiva. Muito embora rica, herdeira de muitas terras, Biela guarda modos rústicos e gostos modestos. Após a morte do pai, Biela sai da fazenda onde sempre viveu e vai morar com os primos em uma pequena cidade interiorana, onde entra em contato com uma realidade burguesa muito diferente daquela que estava acostumada. Para fazer gosto aos primos, Biela tenta se adaptar, mas sua natureza avessa aos luxos irá prevalecer.





O filme, baseado em um romance de Autran Dourado, gira em torno da personagem Biela, uma moça que cresceu na fazenda, em contato com a natureza e os animais e distante dos valores e modismos burgueses. Quando morre seu pai, Biela vai para a cidade morar com a família do primo, conhecendo uma realidade pautada em aparências e posses. Ainda que muito rica, pois herdeira do pai dono de terras, Biela não se importa com roupas luxuosas e, tampouco, com os protocolos sociais da cidade e, ainda que tente se adequar àquele mundo, Biela sente-se estrangeira naquele universo. O filme caracteriza-se por ser profundamente intimista e, como muito bem dito por Lauro Escorel, diretor de fotografia da obra, minimalista. É um filme lento, silencioso, que se esgueira pela tela, exatamente como a personagem Biela, cuja única pretensão é viver sua vida pacata, quieta no seu canto, sem qualquer sobressalto ou guinada. Biela não tem desejos ou sonhos, não faz planos e não almeja nada. Ela se sente melhor entre os humildes criados do que em contato com a família do primo, cujos modos sofisticados aos olhos da jovem soam como desperdício e arrogância. O filme é uma verdadeira ode à existência esvaziada de sonhos, a vida que segue na inércia, dia após dia, ano após ano. Apesar de existir certa poesia na existência simples de Biela, uma singeleza advinda de seu desprendimento, há também certo vazio que, pelo menos a mim, angustiou e comoveu. Certamente existe um diálogo entre a personagem Biela e outra do universo cinematográfica da diretora Suzana Amaral, a igualmente humilde Macabéa ("A Hora da Estrela", 1985), ambas tão invisíveis aos olhos do mundo, tão esquecidas, solitárias e apagadas. O filme traz uma fotografia suave, em um tom meio amarelado e que contribui para o clima melancólico da narrativa. A direção de arte de época é caprichada, conquanto nada exuberante - afinal, a "sofisticação" da família do primo está muito mais no olhar de Biela do que na realidade. A trilha sonora é tristonha e pesada. Gostei da interpretação muito contida de Sabrina Greve como Biela - a personagem é quase uma sombra e a atriz explora muito bem esse intimismo exacerbado. No elenco, Eliane Giardini, Neuza Borges e Itamar Gonçalves. Apesar da gama de sentimentos que o filme me despertou, a melancolia foi o sentimento que prevaleceu. Não é filme para grande público, definitivamente, pois o ritmo extremamente lento e os acontecimentos corriqueiros, quase banais, vão entediar até os ossos quem está acostumado a ações eletrizantes e ocorrências excepcionais. Não sei dizer, ainda, se gostei ou não da obra, mas, acho que valeu a visita. - Biela (Sabrina Greve) é uma moça simples e introspectiva. Muito embora rica, herdeira de muitas terras, Biela guarda modos rústicos e gostos modestos. Após a morte do pai, Biela sai da fazenda onde sempre viveu e vai morar com os primos em uma pequena cidade interiorana, onde entra em contato com uma realidade burguesa muito diferente daquela que estava acostumada. Para fazer gosto aos primos, Biela tenta se adaptar, mas sua natureza avessa aos luxos irá prevalecer.

O filme, baseado em um romance de Autran Dourado, gira em torno da personagem Biela, uma moça que cresceu na fazenda, em contato com a natureza e os animais e distante dos valores e modismos burgueses. Quando morre seu pai, Biela vai para a cidade morar com a família do primo, conhecendo uma realidade pautada em aparências e posses. Ainda que muito rica, pois herdeira do pai dono de terras, Biela não se importa com roupas luxuosas e, tampouco, com os protocolos sociais da cidade e, ainda que tente se adequar àquele mundo, Biela sente-se estrangeira naquele universo. O filme caracteriza-se por ser profundamente intimista e, como muito bem dito por Lauro Escorel, diretor de fotografia da obra, minimalista. É um filme lento, silencioso, que se esgueira pela tela, exatamente como a personagem Biela, cuja única pretensão é viver sua vida pacata, quieta no seu canto, sem qualquer sobressalto ou guinada. Biela não tem desejos ou sonhos, não faz planos e não almeja nada. Ela se sente melhor entre os humildes criados do que em contato com a família do primo, cujos modos sofisticados aos olhos da jovem soam como desperdício e arrogância. O filme é uma verdadeira ode à existência esvaziada de sonhos, a vida que segue na inércia, dia após dia, ano após ano. Apesar de existir certa poesia na existência simples de Biela, uma singeleza advinda de seu desprendimento, há também certo vazio que, pelo menos a mim, angustiou e comoveu. Certamente existe um diálogo entre a personagem Biela e outra do universo cinematográfica da diretora Suzana Amaral, a igualmente humilde Macabéa ("A Hora da Estrela", 1985), ambas tão invisíveis aos olhos do mundo, tão esquecidas, solitárias e apagadas. O filme traz uma fotografia suave, em um tom meio amarelado e que contribui para o clima melancólico da narrativa. A direção de arte de época é caprichada, conquanto nada exuberante - afinal, a "sofisticação" da família do primo está muito mais no olhar de Biela do que na realidade. A trilha sonora é tristonha e pesada. Gostei da interpretação muito contida de Sabrina Greve como Biela - a personagem é quase uma sombra e a atriz explora muito bem esse intimismo exacerbado. No elenco, Eliane Giardini, Neuza Borges e Itamar Gonçalves. Apesar da gama de sentimentos que o filme me despertou, a melancolia foi o sentimento que prevaleceu. Não é filme para grande público, definitivamente, pois o ritmo extremamente lento e os acontecimentos corriqueiros, quase banais, vão entediar até os ossos quem está acostumado a ações eletrizantes e ocorrências excepcionais. Não sei dizer, ainda, se gostei ou não da obra, mas, acho que valeu a visita.

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