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“Verão Breve”, de Nastia Korkia, 2025

  • hikafigueiredo
  • há 2 horas
  • 3 min de leitura

Filme do dia (95/2025) – “Verão Breve”, de Nastia Korkia, 2025 – Katya (Maiia Plenshkevich) é uma menina de oito anos que vai para o campo passar alguns dias de verão com seus avós, que estão em processo de divórcio, enquanto, longe dali, a guerra da Chechênia acontece.


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Esta é uma obra difícil de definir e, até mesmo, de comentar. A narrativa acompanha uma menina de oito anos, na Rússia, que vai passar alguns dias de verão com seus avós no campo. Existe uma evidente e constante tensão no ar, pois, a comunicação entre os avós, em processo de divórcio, deteriora-se rapidamente, ao mesmo tempo em que, ao longe, mas sempre presente, a guerra da Chechênia acontece. Ocorre que a narrativa é praticamente desprovida de qualquer ação, tratando-se de uma longa sucessão de fragmentos daqueles dias, um após o outro, sem que nada de diferente ou excepcional aconteça. Ultralento, o filme capta, através da câmera, o cotidiano dos personagens ao longo do tempo: os avós e a menina chegando à casa de campo, uma ida ao supermercado, Katya brincando com alguns amigos, a avós dormindo com a neta, Katya explorando o lugar.  Se em primeiro plano nada acontece, no segundo plano somos bombardeados por informações que ecoam a guerra das Chechência, ainda que não tenhamos qualquer contato, de fato, com o embate. São os tanques – inúmeros! – sendo transportados por trem; um aviso acerca de um ex-combatente que está desaparecido; são as notícias sendo transmitidas pelo rádio ou televisão; e a brincadeira das crianças que simulam uma abordagem do exército – são pequenos detalhes que reverberam infinitamente mais do que o aborrecido dia a dia de Katya e seus avós. Também inexiste qualquer “movimento” na narrativa, marcada por uma sequência de planos longuíssimos, com a câmera parada, apenas observando. Justamente por isso, percebemos um cuidado especial nos enquadramentos, sempre muito sofisticados e incomuns e muitas vezes abarcando diferentes planos de “ação” – enquanto as crianças brincam em primeiro plano, ao fundo o trem passa carregando os tanques, ou, enquanto Katya mexe em uma pequena caixa, em segundo plano um de seus amigos colhe e come um tomate. A fotografia colorida é acinzentada e sem brilho, sem recortes de luz e sombra e sem nada que desloque a atenção para sua existência. O filme ainda é desprovido de trilha sonora, que só dá o ar da graça nos créditos finais. O silêncio é constante e opressivo, enquanto os pequenos ruídos são, claramente, ressaltados – um zunir de uma mosca, os sons da natureza, os passos no chão de madeira da casa, todos os sons ambientes são trazidos para primeiríssimo plano. Os diálogos são raros e despidos de grande importância, ainda que, neles, residam as maiores tensões entre os avós. As interpretações são minimalistas, até mesmo porque o roteiro não impõe grandes exigências, já que são apenas imagens do cotidiano. A atmosfera é de “vida que segue”, a tensão no ar – que existe, é fato - é tênue, tudo parece morno e parado, como um dia quente de verão. A obra exige certo esforço do espectador para extrair informações e mesmo sensações, não é um filme óbvio em suas intenções e, nem mesmo, fácil de se assistir. Eu confesso que fiquei esperando algo que mudasse aquela letargia – o que não aconteceu. Engraçado que eu não detestei o filme, muito embora sequer consiga definir o que me prendeu a ele. Certamente não é um filme que desperte simpatia geral e a chancela de “filme-cabeça” se aplica perfeitamente a ele. Se alguém quiser procurar em torrent para ver, faça por sua conta e risco. O filme foi agraciado com o prêmio de Melhor Filme de Estreia no Festival de Veneza (2025). Décimo filme assistido na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

 
 
 

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