Filme do dia (277/2021) - "Vivendo na Corda Bamba", de Paul Schrader, 1978 - Três operários de uma fábrica de automóveis - Zeke (Richard Pryor), Jerry (Hervey Keitel) e Smokey (Yaphet Kotto) - colegas de linha de produção e amigos nas horas livres, cansados de serem explorados e enganados por patrões, governo e até mesmo pelos seus representantes junto à empresa, resolvem furtar o sindicato local, causando uma mudança profunda nas vidas de todos os envolvidos.
Primeiro filme como diretor do roteirista de "Taxi Driver" (1976) e "Touro Indomável" (1980), a obra discorre sobre as forças e os interesses que movem a sociedade capitalista, sobre relações de trabalho, sobre a classe trabalhadora, sobre os sindicatos, sobre corrupção e sobre manipulação, sempre sob um forte olhar crítico. Os três protagonistas, embora amigos, são muito diferentes entre si e isso vai refletir diretamente em seus destinos. Há um pesado jogo de interesses por trás das relações que se estabelecem depois do furto do sindicato e tudo que existia de podridão dentro daquela associação sindical vem à tona. O filme já estava sendo ótimo, mas o desfecho, acompanhado de uma frase extremamente lúcida de um dos personagens, é brilhante, quase uma epifania. A narrativa é linear, muito bem encadeada. O filme começa num ritmo bem moderado e com uma atmosfera leve, por vezes até puxando um pouco para a comicidade, mas, não se engane - isso mudará ao longo da história. O ritmo torna-se mais marcado e a atmosfera vai, paulatinamente, tornando-se mais e mais pesada, tensa e angustiante. Tecnicamente, é um filme que não chega a impressionar, mas tampouco faz feio. Aqui, o que mais me chamou a atenção foi a trilha sonora, marcada por blues que irrompe desde a primeira cena e que encaixa perfeitamente na narrativa. O elenco traz Richard Pryor longe de sua habitual tônica cômica - ainda que tenha momentos engraçados, seu personagem é, antes de tudo, dramático, marcado pelo racismo e pela falta de oportunidades, o que não o impede de ser sonhador e ambicioso; Harvey Keitel interpreta Jerry, o único branco do trio e, portanto, com algum privilégio se comparado aos amigos. Jerry mostra-se leal aos amigos e às próprias convicções. Smokey, por sua vez, é interpretado por Yaphet Kotto, sendo o personagem mais consciente e, definitivamente, aquele com as piores experiências de vida. Sua lucidez será determinante para seu destino. Filme com temática forte e uma visão um tanto quanto pessimista, mas lindamente bem orquestrado por Schrader. Gostei, viu, recomendo.
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