Filme do dia (40/2023) – “X – A Marca da Morte”, de Ti West, 2022 – 1978, Texas. Uma equipe de cinema se dirige a uma fazenda no interior na intenção de gravar um filme de conteúdo adulto. Eles não esperavam a recepção que recebem do casal de idosos proprietário da fazenda.
Aaaaargh. Eu detestei o filme em tantas acepções que nem sei se vou conseguir discorrer sobre todas elas. Diante das inúmeras críticas positivas à obra, fui assisti-la com muita expectativa e cai do cavalo bonito. Começa que o filme é um slasher por excelência – e eu, via de regra, não gosto de slashers (para quem não sabe, slasher é aquele tipo de filme com serial killers, mortes em sequência, violência gráfica extrema, eviscerações e muito, muito sangue). Okay, isso é decorrência direta do meu hábito de não querer muitas informações acerca dos filmes antes de assisti-los para não receber spoilers, nem influências externas na minha experiência cinematográfica. Mas o subgênero slasher nem é o principal ponto que me desagradou. A grande questão é que eu achei o filme machista, racista, etarista (ao extremo), enfim, completamente equivocado em suas premissas. Okay, também sei que o público geral dos filmes slasher, como os espectadores de filmes pornôs, estão menos interessados nos conteúdos subjetivos das obras do que no visual, no caso específico, no banho de sangue generalizado, mas, ainda, assim, impossível para mim ignorar as entrelinhas da narrativa. Vou me explicar. Ao longo da narrativa, o filme objetifica os corpos num grau inaceitável, não por se tratar de uma história envolvendo uma gravação de um filme pornô – que também objetifica os corpos, mas nem é esse o caso aqui -, mas por considerar os corpos como meros invólucros, ignorando os seres que ali existem, desconsiderando suas histórias, seu conteúdo, suas vivências. O corpo idoso, assim, é sinônimo de algo extremamente desagradável, asqueroso, repugnante. Um casal de idosos se relacionando sexualmente é propositalmente mostrado como uma aberração e o desejo sexual dos idosos – equiparado equivocadamente ao desejo sexual dos jovens -, quase como algo doentio. A história desse casal é desconsiderada e as dificuldades sexuais dos idosos, motivo de frustração. Aliás, na cabeça do diretor, sexo é sinônimo de penetração, mais um equívoco inconcebível – e daí minha afirmação de que o filme tem conceitos machistas, posto partir de uma premissa falocêntrica ridícula. Também identifiquei um teor profundamente racista, pois há uma clara objetificação do corpo negro (assim como do corpo feminino), o que não ocorre com o corpo do homem hetero branco. Ah, outro ponto que achei, no mínimo curioso... todas as pessoas da equipe de filmagem são extremamente jovens e exibem sua exuberância juvenil, exceto um dos personagens, um homem de quarenta e dois anos. Seu corpo não é exposto, mas, pela história, assume-se que ele é ainda muito viril. Pois bem, quarenta e dois anos é exatamente a idade do diretor Ti West – aparentemente, ele precisa reafirmar sua masculinidade frágil no filme, já que ele está considerando, na obra, que a velhice é sinônimo de inatividade sexual e total decrepitude física.... aaaaah, me poupe. Pois bem, todos esses conteúdos subjetivos me fizeram odiar o filme. Mas, claro, que sempre existe algo a considerar positivo. Aqui, no caso, o diretor – a despeito de sua babaquice extrema – foi bastante hábil em criar tensão nas cenas: há um suspense bem construído, sem dúvida. As cenas de violência explícita são ótimas (para quem gosta, claro) e certamente vai agradar quem está pouco se importando com os meandros do roteiro. O ritmo é bem marcado e crescente, muito adequado ao gênero. Gostei bastante da trilha sonora, marcadamente setentista. E temos boas interpretações do elenco, com a expressiva Mia Goth no papel de Maxine, a alma do filme (e neta da atriz brasileira Maria Gladys); Jenna Ortega (a Wandinha da série) como Lorraine; Brittany Snow como Bobby-Lynne; Kid Cudi como “Jackson Hole” (o corpo negro objetificado); Martin Henderson como Wayne (o alter-ego do diretor... kkkkkkkk), Owen Capbell como RJ e Stephen Ure como Howard (o idoso). Eu sei que a minha será voz dissonante no mundo de críticas ao filme, francamente favoráveis à obra, mas entendo que parti de um ponto que provavelmente não será muito considerado pela maioria das pessoas dispostas a falar sobre a história. Eu assumidamente me irritei com o conteúdo subjetivo do filme, mas não vou falar para ninguém correr dele, já que vejo coisas positivas em outros aspectos. Vejam e tirem suas próprias conclusões. PS... todos nós vamos envelhecer e a alternativa não me parece melhor.
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