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hikafigueiredo

"Zardoz", de John Boorman, 1974

Filme do dia (06/2022) - "Zardoz", de John Boorman, 1974 - No ano de 2293, os seres humanos alcançaram a imortalidade. Mas essa imortalidade só se estende a uma ínfima parcela dos humanos, os chamados Eternos, os quais têm acesso ao conhecimento, às artes e à tecnologia, além de serem detentores do poder. A grande massa humana continua vivendo primitivamente, divididos entre os Brutais e os Exterminadores, dos quais os últimos são incitados pelo pretenso deus Zardoz a matar os primeiros. Nesta realidade, as armas são cultuadas, enquanto o sexo e a reprodução reprimidos brutalmente. Dentre os Exterminadores surge Zed (Sean Connery) que, ao questionar a origem de Zardoz, acaba adentrando no Vórtex, espaço reservado aos Eternos e descobrindo algumas tantas verdades.




Gente... kkkkkkkk... nem sei bem o que dizer deste filme de tão esquisito que ele é! Considerada um clássico da ficção científica, a obra retrata um futuro distópico onde a Humanidade encontra-se dividida entre uma elite intelectual e imortal e uma massa selvagem mortal que ainda se reproduz e, por isso, é incitada a se exterminar por um suposto deus representado por uma cabeça de pedra voadora (!!!! - e isso é só o começo!) A narrativa é repleta de simbologias estranhas, muitas das quais incompreensíveis, mas algumas ideias ficam bem claras - o fracasso da tecnologia, o retorno ao primitivo, a religião como forma de dominação, o represamento do conhecimento, a correlação entre ignorância e violência, a imortalidade que leva à supressão de sonhos e anseios, a pulsão de morte: todas estas ideias permeiam a narrativa num grande caldo psicodélico com toques de surrealismo, resultando em um filme para lá de esdrúxulo. Curioso que a intenção do filme não é muito evidente, não - algumas boas ideias sugerem uma obra séria, um tanto quanto trágica, mas a mise-en-scène toda deságua num filme trash desde o seu DNA. Com roteiro assinado pelo próprio diretor Boorman, a história não poderia ser mais pessimista, pois inexiste qualquer ambiente sadio e agradável - mesmo o Vórtex é extremamente tóxico e infeliz, pois a existência idílica, o livre conhecimento e a imortalidade jogaram os Eternos em um verdadeiro limbo de vida, a ponto de serem tomados por uma espécie de paralisia e desejarem a morte mais que tudo. A narrativa é linear, em um ritmo ágil e bastante desconexo. Apesar de mostrar um futuro para lá de sombrio, a atmosfera não chega a ser deprimente ou mesmo tensa - o estranhamento é tal por esse filme, que eu não consigo sequer explicar a atmosfera predominante na obra. Visualmente, o filme é de um mau-gosto atroz, que parte do assumidamente kitsch para o feio em sua mais pura acepção - inclusive, antes de assisti-lo, a única referência que eu tinha da obra era Sean Connery em uma ridícula tanga vermelha acompanhada de botas de couro até as coxas e uma incompreensível trança no cabelo, algo que deixaria o maiô do personagem Borat com vergonha. E esse figurino não é pontual - toda a direção de arte da obra é assim, horrorosa, ao nível do vexame. O mais bizarro é o elenco do filme - Sean Connery e Charlotte Rampling, ambos intérpretes renomados e sérios, parecem conhecer algum segredo obscuro da história, pois só isso para explicar suas presenças ali, num trabalho aparentemente austero, mas que parece mesmo ter saído da imaginação fértil de um hippie em viagem lisérgica. Eu, particularmente, vejo um diálogo desta obra com o renomado filme "O Planeta dos Macacos" (1968), outro cujo futuro distópico nos lança de volta ao primitivismo. A obra foi alçada a cult, acho que mais pela bizarrice do que pela conteúdo crítico (que eu nem nego que tenha). Eu não gostei não e tive de lutar contra um sono insistente, ainda que tenha dado para dar umas risadas do figurino bisonho. Só mesmo para fãs de ficção científica muito aplicados.

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