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hikafigueiredo

"Zumbis do Mal", de Willard Huyk e Gloria Katz, 1973

Filme do dia (45/2022) - "Zumbis do Mal", de Willard Huyk e Gloria Katz, 1973 - A jovem Arletty (Marianna Hill) se dirige a uma pequena cidade litorânea da Califórnia, Point Dume, em busca de seu pai, artista plástico, o qual deixara de fazer contato. Ao chegar ali, descobre, com desespero, que seu pai encontra-se desaparecido. Enquanto desenvolve-se uma investigação, Arletty envolve-se com um trio de amantes e percebe estranhos acontecimentos na cidade.





Tenho de confessar que achei esse filme beeeem estranho! Muito embora seja, inegavelmente, um filme "B", de baixíssimo orçamento, ele tem ecos sofisticados, do cinema europeu, em especial na atmosfera blasée que o envolve - apesar dos estranhos acontecimentos que ocorrem na cidade, os personagens mantêm-se indiferentes e ensimesmados, exatamente como acontece nos filmes existencialistas da Nouvelle Vague. O nome da protagonista, Arletty, inclusive, remete-nos a uma célebre atriz francesa, intérprete nos ótimos "Os Visitantes da Noite" (1942) e "O Boulevard do Crime" (1945), ambos de Marcel Carné. A narrativa começa com um monólogo de inspiração existencialista da personagem Arletty, que se encontra internada em um manicômio - a imagem de um longo corredor desfocado, tendo, ao fundo, uma figura humana no contraluz dá um tom aterrador à cena. Desta, passamos a um flashback que mostrará o que aconteceu à protagonista e que a levou à internação psiquiátrica. Assim, acompanhamos a personagem Arletty até a cidade de Point Dume, onde ela invade a casa onde seu pai morava - a ambientação, o estúdio onde ele trabalhava, causa estranheza e leva uma iluminação colorida que lhe lega ares de pesadelo (a sequência me remeteu imediatamente à obra "Suspiria", 1977, que usa o mesmo subterfúgio - a iluminação colorida - para criar esse efeito onírico). Diria que a maior força da obra está, justamente, na sua capacidade de criar uma atmosfera de pleno pesadelo, uma vez que o roteiro mostra certas fragilidades, em especial por não explicar alguns pontos do filme (como, por exemplo, a motivação do trio de amantes em permanecer naquela cidade enquanto tantas coisas estranhas acontecem). A narrativa é circular, pois inicia no manicômio, passa para o longo flashback e retorna para o manicômio. O ritmo é moderado e bastante irregular - temos algumas cenas bem ritmadas e outras excessivamente paradas, em especial as que envolvem o trio de amantes e a protagonista (quando eles se separam, o ritmo acelera impressionantemente). Gostei demais das opções estéticas do filme, começando pela já mencionada fotografia colorida, muito marcante. O elenco traz Marianna Hill como Arletty, Anitra Ford como a femme fatale Laura, Joy Bang como a lolita Toni e Michael Greer como o sedutor Thom - apesar de ninguém ali ser nenhum monstro da interpretação, curti aquele referido "ar blasée" que emana do trio Laura-Thom-Toni, que me lembrou o trisal de "Os Sonhadores" (2003). O filme tem méritos, mas não foi dizer que se encontra entre os filmes favoritos do gênero. Destaco três cenas - a invasão do estúdio, a do supermercado e a do cinema: elas acabam por valer o filme, pois o restante é bem mais fraco que essas três sequências eletrizantes. Recomendo para quem tem interesse específico no tema ou curte muito filmes de terror "B" elevados a cult.

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